domingo, 27 de novembro de 2011


Os Homens sem Pé no seu Tempo

"Das coisas tristes que o mundo tem, são os homens sem pé no seu tempo. Os desgraçados que aparecem assim, cedo de mais ou tarde de mais, lembram-me na vida terras de ninguém, onde não há paz possível. Imagine-se a dramática situação dum cavernícola transportado aos dias de hoje, ou vice-versa. A cada época corresponde um certo tipo humano. Um tipo humano intransponível, feito da unidade possível em tal ocasião, moldado psicològicamente, e fisiològicamente até, pelas forças que o rodeiam. A Idade Média tinha como valores Aristóteles e os doutores da Igreja. E qualquer espírito coevo, por mais alto que fosse, estava irremediàvelmente emparedado entre a Grécia sem Platão e as colunas do Templo. De nada lhe valia sonhar outro espaço de movimento. Cada inquietação realizava-se ali. O que seria, pois, um Vinci do Renascimento, multímodo, aberto a todos os conhecimentos, a bracejar dentro de tão acanhados muros? 

Neste trágico século vinte, sem qualquer sério conteúdo ideológico, sem nenhuma espécie de grandeza fora do visceral e do somático, todo feito de records orgânicos e de conquistas dimensionais, que serenidade interior poderá ter alguém alicerçado em valores religiosos, estéticos, morais, ou outros? Nenhuma. Entre o abismo da sua impossibilidade natural de deixar de ser o que é, e a muralha que o separa inexoràvelmente do plaino onde se move e se justifica a multidão circundante, o desgraçado é como aquelas algas desenraizadas que o mar atira impiedosamente à terra, e que a terra devolve impiedosamente ao mar. É claro que na maior parte das vezes a pobre alga protesta. Todos se devem lembrar de Romain Rolland a erguer a voz impotente contra a guerra de 14. Sabemos o que valeu o seu grito. Foi só o tempo de disparar o primeiro canhão. O protesto, como um gemido inútil, ficou à retaguarda, abafado pelo estrépito dos que passavam. É a eterna e triste lei das realidades. Tão eterna e tão triste, que até passando do individual para o colectivo ela é verdadeira. 

Veja-se o caso em relação a dois continentes, a Europa e a América, por exemplo. 
Teima a Europa, culta, velha, experiente, mas anacrónica, em que a vida dos povos é sobretudo história. Que, por isso, o facho da autêntica civilização é seu, e só na sua posse deve caminhar. Tudo verdades como punhos. Mas o certo é que o facho lhe está dia-a-dia a morrer nas mãos e a passar para as mãos selvagens dos seus colonos. Com a mesma luminosidade? Evidentemente que não, mas que importa ? A vida não se move por acções lógicas. Move-se por imponderáveis, e sobretudo pela força dos factores. O homem que o nosso século pede não é o que lê, o que se aprofunda a cavar em si. É um ser biológico perfeito, no sentido corpóreo e psíquico duma abelha. A natureza dos favos é variável, claro está, conforme as necessidades de cada hora. Há pouco tempo ainda era um simples e inofensivo automóvel; neste momento o casulo é um tanque ou um avião. Por isso, a que propósito seria qualquer céptico em matéria de parafusos um representante actual da nossa civilização? Ver uma Grécia escrava de Roma é tão natural como ver um Unamuno perdido na Espanha de 36."

Miguel Torga, in "Diário (1942)" 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Olhos piscam menos cinco vezes por minuto frente ao computador



Especialista do Porto deixa alguns conselhos

2011-11-18
Por Marlene Moura (texto)

Pestanejar voluntariamente é uma das recomendações.
A utilização intensiva de computadores é um tema que começa a preocupar as sociedades mais desenvolvidas e os especialistas alertam para os sucessivos malefícios oculares causados pelo cansaço. Passar horas a fio perante um ecrã de computador diminui a frequência do piscar de olhos, em média, menos de cinco vezes por minuto – aumentando os sintomas do olho seco e da fadiga ocular, levando dores de cabeça, visão turva, sensibilidade à luz e contribui para que os olhos fiquem secos e irritados.

Segundo explicou ao jornal «Ciência Hoje», o oftalmologista Castro Neves, “os olhos estão preparados para ver ao longe e quando focam um objecto a curta distância o esforço é maior, levando a mais concentração e, consequentemente, a um maior cansaço ocular”.
Quando o olho foca um objecto que se encontra perto, faz ajustes imperceptíveis e incontroláveis para conseguir fazê-lo, como, por exemplo, quando usamos o zoom numa câmara digital. Esses ajustes são chamados de microflutuações da acomodação visual e são realizados através das contracções de um músculo no olho. No entanto, tal como todos os músculos, o esforço contínuo leva a um stresse das funções oculares e ao cansaço e, por conseguinte, os olhos são incapazes de focar correctamente, levando assim à fadiga ocular.

O também coordenador da unidade de Oftalmologia do hospitalcuf Porto avançou que “as pessoas que trabalham frente ao computador devem pestanejar frequentemente para proporcionar um certo descanso aos olhos", na medida em que os humedece e limpa – fomentando "a distribuição frequente do fluido lacrimal e evitando ardências e secura ocular”.

Dicas para a redução dos sintomas de CVS
O monitor deve ficar 10 a 20 graus abaixo do nível dos olhos, a distância entre a tela e os olhos deve ser de 60 centímetros, o ecrã não deve estar em frente a uma janela, pois a luminosidade causa ofuscamento, nem de costas porque forma sombras e reflexos que causam desconforto, deve evitar-se o excesso de luminosidade das lâmpadas e luz natural pois as pupilas se contraem e geram cansaço visual, é importante regular a tela com o máximo de contraste e não de luminosidade e mantê-la limpa, a cada hora, deve-se descansar cinco a dez minutos do computador e piscar voluntariamente os olhos.
A fadiga visual, também designada como Síndrome Visual do Utilizador de Computador ou CVS (Computer Vision Syndrome), atinge entre 70 e 90 por cento daqueles que trabalham com materiais informáticos.

Recomendações 

A quem tem necessariamente de passar muito tempo a trabalhar no computador, o médico recomenda que “desvie o olhar de hora a hora e o fixe no horizonte durante alguns minutos”. Castro Neves alerta também para o facto de ser “preciso regular o brilho e contraste do monitor e evitar o reflexo das luzes ambientais no mesmo”.

Além destes conselhos, o oftalmologista conclui que, “de uma forma geral, proteger os olhos da luz solar, fazer um ‘check-up’ à visão, evitar estar muitas horas a olhar fixamente para o computador, pestanejar várias vezes, desviar o olhar e manter uma dieta rica em fruta e legumes podem conduzir a uma boa saúde ocular”.

O olho é o órgão sensorial que permite ver e reagir ao ambiente, e aquele de que temos mais recordações mentais. Para manter os olhos saudáveis, basta cuidá-los através de alguns gestos.

A frequência com que os olhos devem ser examinados difere com a idade e doenças associadas. Castro Neves refere que “os adultos saudáveis devem fazer pelo menos um exame oftalmológico entre os 20 e os 40 anos. Antes da entrada para a escola, é importante que as crianças façam despiste e descoberta de alguns problemas oculares. Após os 40 anos, o exame ocular deve ser realizado de dois em dois anos em pessoas saudáveis”.

[http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=51845&op=all]

domingo, 20 de novembro de 2011

O Valor do Tempo

Para conheceres o valor de um ano, pergunta a uma estudane que ficou chumbado.
Para conheceres o valor de um mês, pergunta a uma mãe que deu à luz prematuramente.
Para conheceres o valor de uma semana, pergunta a um editor de um semanário.
Para conheceres o valor de um dia, pergunta a um desempregado à espera de trabalho.
Para conheceres o valor de uma hora, pergunta a um par de namorados que esperam ansiosamente por se verem.
Para conheceres o valor de um minuto, pergunta a alguém que perdeu o comboio ou avião.
Para conheceres o valor de um segundo, pergunta a alguém que sofreu um acidente.
Para conheceres o valor de um milésimo de segundo, pergunta a alguém que ganhou nos Jogos Olímpicos.

[revista juvenil]


sábado, 19 de novembro de 2011

Frases Inesquecíveis (parte I)


Ser desafiado na vida é inevitável, ser derrotado é opcional
Roger Crawford

Nunca tive indigestão por engolir o que eu disse
Winston Churchill

A menor distância entre duas pessoas é uma boa risada.
Leo Buscaglia

Aquilo que amamos diz quem somos
Tomás de Aquino

Se um milhão de pessoas acredita numa tolice, ela continua a ser uma tolice.
Anatole France

Vivo numa casa muito pequena, mas as janelas estão abertas para um mundo muito grande.
Confúcio

Há mais na vida do que apenas aumentar a sua velocidade.
Mahatma Gandhi

O pior pecado é a indiferença.
George Bernard Shaw

O tempo convence mais do que argumentos.
Thomas Paine

Não estava a chover quando Noé construiu a sua arca.
Howard Ruff

A pobreza consiste em sentir-se pobre.
Ralph Waldo Emerson

Se acha que a educação custa caro, tente a ignorância.
Derek Bok

Tédio é apenas falta de atenção.
Christopher Fremantle

O oposto da bravura não é a covardia, mas o conformismo.
Robert Anthony

Quem souber voar não deve deitar fora as suas asas com pena dos que nao sabem; antes deveria ensiná-los a voar.
Lorenzo Milani

Aprender: verbo auxiliar de existir.
Millôr Fernandes

É parte da cura o desejo de ser curado.
Sêneca, o jovem

O sucesso é como a chiclete, só ficamos com o gosto mas não engolimos.

Se a jornada é fácil, cuidado! Pode estar a ir ladeira abaixo.
Greg Taunt

Não desfaças o herói que está na tua alma.
Nietzsche

O progresso é a realização de utopias.
Oscar Wilde

Seja a mudança que desejas ver no mundo.
Mahatma Gandhi

Não existe talento sem treinamento.
Oscar Schmidt

Coragem é o sentimento humano que determina todos os demais (sentimentos).
David Letterman

A resposta mais curta é fazer.
Ditado inglês

Sonhar não é esperar.
Miguel de Unamuno

Quem não se ocupa preocupa-se.
Oto Lara Resende

Há mais pessoas que desistem que pessoas que fracassam.
Henry Ford

Tudo o que aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade.
Victor Hugo

Felicidade não é uma questão de risada.
Arcebispo Whately

Felicidade é ter o que fazer.
Aristóteles

Viva todos os dias como se fossem o último. Um dia acerta.
Luis Fernando Veríssimo

Tempo é o maior valor que um homem pode gastar.
Teofrasto

O mundo pertence a quem não tem hora fixa para as refeições.
Anna de Noailles

O homem que não age não sofre.
Thomas Stearns Eliot

Eu prefiro ser traído a desconfiar de todo o mundo.
Roberto Marinho

A melhor forma de ganhar dinheiro é deixar de perdê-lo.
Rolim Amaro

Um hoje vale por dois amanhãs.
Benjamin Franklin

Só há progresso onde existe esperança.
Steven Spielberg

Todos os homens pequenos, superposto, não formam um grande homem.
Carlos Drummond de Andrade

Nunca siga a multidão.
Bernard Baruch

Não brigue com o problema. Resolva-o.
Thomas R. Marshall

A vida é dura para quem é mole.
Ditado popular

Um mundo diferente não pode ser construído por pessoas indiferentes.
Peter Marshall

A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.
Provérbio Zen

Vivem somente os que lutam.
Victor Hugo

A águia voa sozinha, os corvos voam em bando.
Ruckert

É melhor ser invejado que lastimado.
Heródoto

Uma vontade encontra uma maneira.
Orison Marden

A vitória sempre foi de quem nunca duvidou dela.
Raul Follerman

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

30 minutos a mais

Não sei qual é a deles... Um dia encontram a pessoa da vida deles, aquele ser chamado "alma gémea" e pasam a esquecer que existimos. Amigo são amigos e então? Queremos amigos com quem possamos contar, que saibam vir até nós e que nos saibam amparar a queda (a escada ainda é alta...), queremos amigos que tenha memória suficiente (sei lá... 1TB é bem grande e está na moda!), queremos amigos que acima de tudo sejam aquilo que são e não em função dos que entram e saiem da sua vida. Nós percebemos... Amor é amor, e ódio é ódio, mas Amizade está em todo o lado, não como o iogurte, que tem de estar nalgum sítio para se manterem em boas condições e muito menos que tenham uma validade curta. Queremos amigos que sejam amigos, amigos que são falsos, amigos que são verdadeiros, isso é tudo uma publicidade enganosa: ou são ou não são! É por essas e por outras que às vezes prefiro que não me conheçam se um dia for para me ignorar ou insultar. Seja o que for... pior que insultar é mesmo ignorar... Pior que nos ouvir é prometerem lutar por algo que eles mereçam e se recusem a lutar por isso. Pior que nos dizerem aquilo que não estámos à espera é pensar que nos conhecem, que esquecemos deles, que fizemos o que quer que seja. Pior que fugir, é não enfrentar, é estarmos a não os deixar cair e eles deixarem-se ir, por erros absolutamente estúpidos (que já cometeram antes...). Afinal, que esperam de nós? Que sejamos Amigos quando se recusam a tentar perceber, que se recusem a dizer o que pensam, sentem, querem, precisam, acham... Deixem achar... As coisas não acabam ali, e se ainda não entenderam a ideia, a teimosia que faz parte de mim é mesmo a sério (não é temporária!). Dizem por aí que os animais são os nossos melhores, mas isso sinceramente nem faz parte do espectáculo. São, sem dúvida. Mas querem comparar computadores e telemóveis? Eu quero os 2! É aquela mania de tentar definir as coisas, o que é "oficialmente" correcto exigir-se dum amigo quando cada um de nós é absolutamente único. Se não são... deviam ser! (é daquelas coisas que não tolero em ninguém!)


p, 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011


Fizeram uma sondagem mundial em que a pergunta era:
"Por favor, diga a sua opinião acerca da escassez de alimentos no resto do mundo".

A sondagem acabou por revelar-se num fracasso. Sabem porquê?
- Na Europa Ocidental, as pessoas não sabiam o que era "escassez";
- Na Europa de Leste, não sabiam o que era "opinião";
- Na América do Sul, não sabiam o que era "por favor";
- Nos Estados Unidos da América, não sabiam o que era "resto do mundo"
- Em África, não sabiam o que era "alimentos".

[retirado de uma revista juvenil :: 2001]

Família de Palavras


Olha para o quadro e diz o nome das cores e não a palavra.


AMARELO                              AZUL                           LARANJA


PRETO                      VERMELHO                          VERDE




             ROXO                      AMARELO                           VERMELHO



LARANJA                    VERDE                                    PRETO




          AZUL                                       VERMELHO                      ROXO



VERDE                        AZUL                   LARANJA



Conflito esquerda-direita:
A parte direita do cérebro tenta dizer a cor, mas a parte esquerda insiste em ler a palavra.

Gosto

Gosto do teu sorriso, dá-me um pouco dele
Adoro o teu olhar, deixa-me olhar-te
Gosto da tua companhia, guarda um pouco de espaço a teu lado
Adoro as tuas mãos, deixa-me tocar nelas
Gosto das tuas palavras, sussurra-me ao ouvido
Gosto da tua voz, embala-me nos teus braços
Quero um pouco do teu coração, deixa-me estar dentro dele um pouco...
Agarra-me com toda a força, abraça-me com quantos abraços tens, e beija-me com carinho
Adoro-te de todas as vezes que vens visitar-me e de todas as vezes que partilhamos a cama e almofada, as nossas histórias e aventuras, o teu perfume... e de todas as vezes que entrelaçamos as mãos, e vais com cuidado chegando perto de mim e não resistes a proteger-me e a amar-me
Gosto do teu infinito e sonhos, os teus desejos e até me agrada adormecer junto a ti, no teu calor e amor
Até os teus cabelos perdidos, e memórias guardadas marcam as páginas do nosso e só nosso caminho
Quero navegar nos teus mares e marés, quero descobrir e guerrear na tua realidade
Gosto do teu toque, que me faz tremer
Gosto do teu jogo e rodeios, gosto do teu saber e não-saber, a tua competição, o teu domínio e o teu estranho mistério que guardas aí, além
Gosto da tua música, que me embala e me guarda sempre...


... junto a alguém como tu


Save a Prayer


You saw me standing by the wall,
Corner of a main street
And the lights are flashing on your window sill
All alone ain't much fun,
So you're looking for the thrill
And you know just what it takes and where to go

Don't say a prayer for me now,
Save it 'til the morning after
No, don't say a prayer for me now,
Save it 'til the morning after

Feel the breeze deep on the inside,
Look you down into the well
If you can, you'll see the world in all his fire
Take a chance
(Like all dreamers can't find another way)
You don't have to dream it all, just live a day

Don't say a prayer for me now,
Save it 'til the morning after
No, don't say a prayer for me now,
Save it 'til the morning after
Save it 'til the morning after,
Save it till the morning after

Pretty looking road,
try to hold the rising floods that fill my skin
Don't ask me why I'll keep my promise,
I'll melt the ice
And you wanted to dance so I asked you to dance
But fear is in your soul
Some people call it a one night stand
But we can call it paradise

Don't say a prayer for me now,
Save it 'til the morning after
No, don't say a prayer for me now,
Save it 'til the morning after
Save it 'til the morning after
Save it 'til the morning after
Save it 'til the morning after
Save it 'til the morning after

Save a prayer 'til the morning after

[Duran Duran]

À tua espera

É um pouco compreensível que as pessoas por vezes se sintam um pouco mais próximas, um tanto atraídas por nós, que acima de tudo se sintam bem connosco quando lhes abrimos o coração. É aquele toque de intimidade, de confiança. É compreensível que as pessoas gostem de nós quando somos sinceros com elas. Por vezes magoa ter de lhes negar "todo" o nosso coração. Pensam elas que lhe negámos tudo o que há de melhor por tal. Mas elas não entenderão nunca o que significa uma amizade. A vida também é um jogo de esperança e luta. É por isso que estou aqui. E ainda que não lhes entregue por completo o coração, sei que os amo com todo o meu coração. Não é por acaso que são Amigos. São tão valiosos... Se tu tivesses encontrado muitos diamantes, largarias algum deles? Ainda que um deles fosse mais pequeno que os restantes? Irias fazê-lo? Pois, mas eu não tenho diamantes... quer dizer... até tenho... se considerar os meus amigos os meus diamantes... Para mim a vida não faz sentido sem eles. Muitas vezes não parece, sei que não. E odeio que esta vida seja demasiado ocupada e passe tão rápida. Odeio quando penso que posso estar a roubar-me a mim mesma em nome desta sociedade arruinada e sem sentido. Pois isso todos são bem capazes de o dizer... Tenta perguntar a quem quer que seja o que pensa deste mundo. Muito provavelmente te dirá que é um mundo comum, cruel ou até mesmo, sem futuro, um mundo sem nada. E eles, tal como nós fazemos parte dele. Querem eles lá saber dos outros... Querem lá saber que são os mais sortudos do planeta. Desde que falte algo a vida já perdeu a pica toda. Não é bem assim: luto para que cada pessoa que levo comigo se sinta única, especial, seja através de palavras, seja através de gestos, do olhar, até que rezasse por eles. Somos nós que vivemos neste mundo, somos nós que fazemos o mundo ir e vir, e se cá estámos talvez haja um sentido, talvez sejamos uma última palavra, um último olhar, a força e a alegria deste mundo. A Humanidade geme... Há tanto tempo que me pergunto porque tenho de encontrar o máximo no mínimo, porque são eles assim tão importantes para mim, ainda que não façam eles metade daquilo que faço por eles... Pois, mas a vida também me foi abrindo a sua porta,e deixou-me, com todo o cuidado, espreitar. Descobri que não somos correspondidos como esperamos mas do jeito de cada um. Talvez essa seja a maior cegueira de todos. É absurdo pensar que estamos sozinhos aqui. Um dia vais percebê-lo, se deixares a porta aberta, vais... É compreensível que as pessoas te julguem não como mereces, mas entende que tens o dom de amar e não de revelar... 


"O sonho ainda nao chegou. A realidade está à espera dele" [11/11/2011]

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Teatro: "Flores para Mim", de Abel Neves, mostra que todos somos deficientes


“Num mundo povoado de tantas crises, apeteceu-me descentrar o foco e ir para a crise humana, que é o princípio de todas as crises”, disse à Lusa a encenadora, Natália Luiza, codirectora artística do Teatro Meridional.
“Esta peça foi escrita numa série de circunstâncias, como eu ter-me confrontado, mais uma vez, com a dificuldade de uma pessoa com mobilidade reduzida para entrar num edifício público, o tsunami no Japão, as primeiras manifestações deste movimento reivindicativo de rua… e esta peça acaba por cruzar estas dimensões todas, há aqui várias deficiências – só não há a pior de todas, que é a moral, que é a que provoca hoje a deficiência do mundo, a crise provocada pela imoralidade da alta finança”, indicou.
Catarina (Teresa Sobral) é uma deficiente motora, encontra-se numa cadeira de rodas. “Eu não estou imobilizada – corrige ela – tenho mobilidade reduzida”.
É uma pessoa amarga, revoltada com o seu presente e que se refugia no passado, razão pela qual decidiu decorar a sala de sua casa como o quarto de um hotel de duas estrelas pobre, sujo e malcheiroso, onde iria passar um fim-de-semana com o então namorado, Jaime (Rui M. Silva), que nunca apareceu.
“Gosto de hotéis, são impessoais. É como se não fosse eu a viver a minha vida”, afirma.
E sobre as relações humanas, observa que “fazemos uns com os outros o mesmo que as placas tectónicas: colisão e afastamento”.
Catarina responde muitas vezes torto à tia, Rita (Elsa Galvão), pouco mais velha que ela e que lhe dá o apoio possível, mesmo à sua revelia. Irrita-se com tanta frequência, que Rita lhe pergunta: “Mas o que é que foi agora? Mais uma palavrinha de que não gostaste?”.
“A partir de uma personagem que altera a sua vida, de alguma maneira, temos o pretexto para falar das dimensões humanas, que é aquilo de que eu gosto no teatro… Quando o teatro expõe os seres humanos que todos somos, com defeito. Trabalhámos as personagens sobretudo ao nível dos seus defeitos”, resumiu Natália Luiza.
Jaime tem agora outra namorada, uma rapariga mais nova chamada Mirita (Sara Leitão), e visitam Catarina com frequência, porque ele se sente culpado da situação – ou condição, como ela logo emendaria – de Catarina.
Mirita insiste em levar flores a Catarina, que detesta flores desde que, depois do acidente, quando estava no hospital, Rita lhe levou o primeiro de muitos ramos. Fizeram-na sentir “imbecil e murcha”, diz ela.
“Eu só quero ajudar” é a frase mais repetida por Mirita, mesmo quando diz coisas inconvenientes em catadupa e é flagrante que a sua ajuda não é bem-vinda e que Catarina gostaria de ser deixada em paz.
“A Mirita tem uma deficiência social, tem um défice social”, aponta a encenadora.
Natália Luiza sublinha igualmente que esta é uma característica dos cuidadores, este excesso de zelo que os leva a tratar os outros com condescendência e a opor-se à respectiva vontade, dizendo que é para o bem deles.
“Tanto bem faz mal!”, exaspera-se Catarina, depois de Rita, mais uma vez, insistir para que ela coma o jantar ou, pelo menos, aceite beber um chá.
“Nós aqui cruzamos deficiências de vária ordem, da ordem do físico, que é a mais óbvia, depois as de ordem funcional, afectiva, social… Há ainda a deficiência do cuidador, que reivindica o seu espaço, e isso acaba por ser uma forma de deficiência também”, comentou.
Se tivesse de fazer um convite directo ao público para vir ver esta peça, Natália Luiza fá-lo-ia assim: “Venham ver qual é a vossa deficiência”.
“Flores para Mim” estará em cena no Teatro Meridional até 11 de dezembro, de quarta-feira a sábado às 22:00 e aos domingos às 17:00.

@Lusa