Aquela vez...

Aquela vez em que me magoei a sério e não disse para não te ver triste e preocupado.
Aquela vez em que deixo de fazer aquele trabalho importante para te dar um pouco de apoio moral/social, enfim.
Aquela vez em que o cão te mordeu e fui a correr socorrer. Não pensei, simplesmente fiz o que veio à cabeça naquele momento. 
Aquela vez em que escondi que gostava de ti para não te perder. Ou até, quando te apoiei pra que ficasses com outra pessoa que não eu. Não me interferi no teu caminho.
Aquela vez em que te dei a minha oportunidade para brilhar por confiar nas tuas capacidades.
Aquela vez em que um animal teria de perder “dignamente” a vida e alguém “preferiu” ter esse papel de carrasco. Fi-lo por ti. Não que preferisse porque não gosto desse papel. É horrível um animal perder um dom tão grande como a vida…
Aquela vez em que odiei uma atitude tua mas por gostar de ti, do tamanho deste mundo, perdoei. Perdoei muitas vezes, e vezes sem conta. Perdoarias?
Aquela vez que soube um segredo teu e guardei. Talvez ainda ninguém saiba…
Aquelas vezes em que alguém tinha de ficar a fazer coisas tremendamente chatas no lugar de alguém... Pois, será que pensaste que eu pensei em ti, mais que em mim?
Não irias compreender…

Ser-se solidário, compreensivo, amável, simpático, dar colo aos amigos, tudo isso tem um preço; tudo tem o seu papel. Num mundo cinzento como o nosso alguém tem de sorrir alguém tem de sorrir ainda que queira chorar. Num mundo cinzento como o nosso alguém tem de construir enquanto outros destroem. Num mundo cinzento como o nosso alguém tem de sorrir quando cá dentro habita uma vontade LOUCAMENTE DOIDA de gritar: PAREM DE SER ASSIM! PENSEM NO QUE REALMENTE IMPORTA! PAREM DE SER IDIOTAS, BRINCAR COM OS SENTIMENTOS DOS OUTROS QUANDO NA VERDADE SÃO PROFUNDAMENTE INFERIORES A ELES; E QUE PELO MENOS ALGUÉM PERDE TEMPO SEU PARA OUVIR-VOS RECLAMAR DA VOSSA VIDA! PAREM DE SER MEDÍOCRES! Não… simplesmente querer gritar que estou feliz pelo que tenho e, que apesar de tanta incolor, este mundo está repleto de cor, luz, sabedoria e alegria. Que todos nós, incluindo eu, estou aqui para respeitar e ser respeitado, amar e ser amado. Mais que tudo, ser-se alegre com coração destroçado, magoado, desfeito. Tu imaginas o que isso é?
Imaginas o que é guardar dentro de ti uma enorme alegria, pelas tuas vitórias, e que as pessoas à tua volta nem sempre percebem? Elas percebem coisas erradas de ti, coisas que alguém até inventou, sabe-se lá porquê, enquanto o importante passa completamente ao lado. Mas tu continuas sorrindo por dentro pois, o importante é sorrir.
Quantas vezes pensaste errado de mim e por outro lado criticas alguém por julgar-te? Será que pensas que todos ocupam um lugar como o teu, que todos julgam e são julgados? Já pensaste que como tu, sofrem e vivem neste mundo, uns mais, outros menos? Com mais ou menos defeitos se vai vivendo. Estou aqui e, apesar de não concordar com tudo o que pensas, não deixo de gostar de ti! São coisas bem diferentes. Já tentaste calçar os meus sapatos?

Podemos fugir de tudo, menos dos sentimentos. Sinto, sofro, sorrio. Sou feliz, ora infeliz. Tristeza não é chorar; por vezes é ficar o dia todo deitado ou sentado sem saber que fazer, sem saber porque me sinto vazio por dentro. Fazer por fazer. Ou não fazer. E a felicidade também tem dias em que escorrer pelo rosto abaixo e se prende num abraço, ou numa folha de papel que se vai escrevendo. Pensas que sou assimental mas será que entendes o que é sofrer em silêncio?
O silêncio é intenso, misterioso, poderoso. Nada se perde nele. Nem todos demonstramos força no exibir. Há-os mais reservados, introspectivos. Enquanto uns vão à luta, outros pensam; uns actuam, outros aplaudem. Alguma vez perdeste o teu tempo para conhecer quem eu sou? Será que sabes que sequer existo? É que por vezes passas por mim e nem ligas, e quem afinal é empinhado e otário sou eu?… Tu e eu não somos tão diferentes assim. Se te achas lutador, o melhor, feliz, simples ou honesto, olha à tua volta. Repensa bem no que dizes!

Ninguém sabe o que é sentir que as pessoas nos olham de lado sem razão.
Ninguém sabe o que é viver todos os dias de coração partido.
Porque nos magoam
Sem razões.
Acredito que neste mundo ainda existem bons corações.
O que nem sempre se vê por aí a vaguear.
E nem sempre esses corações se abrem para nós.

Sempre vamos precisar de quem menos se espera.
E nos vamos surpreender com algumas atitudes.
E ainda mais com nós mesmos.

Podemos esconder-nos de tudo, menos dos sentimentos.
Cansa ver todo o mundo constantemente experimentar a vida, a vivê-la.

Não se permitam, fechando, apagar a vossa essência.
Não vá o inconsciente tramar-vos alguma
E em revolta, dar uma volta de 360º à vida.

O inconsciente por vezes, arde em brasa viva, dentro de nós,
Por vezes respira sem se saber, no meio de tudo.
É um icebergue com rastilho, uma doença de morte lenta.

O inconsciente nem tu mesmo conheces.
É a sombra da alma.
É a acção desencadeada incontrolável
Face ao viver.

Mais se discriminam os seres perfeitamente imperfeitos que os imperfeitamente perfeitos.
Se afinal somos todos seres humanos.

Impossível o coração ficar dentro do peito
Improvável caber nele.
Indomável:
É demasiado p’ra mim.

“Fechar as portas do coração é permitir que, quem no passado, nos magoou, continue a ter o poder de o fazer para o resto da vida.”