Pedem-nos a nossa amizade
quando ela é, lá no fundo, indispensável quando não têm mais ninguém para
conversar. Pensam por nos ter na lista de amigos que nos têm na mão, como se
fossemos objectos. Sintirei orgulho por ver que eles são felizes, não pela
fotos que tiram. Sorrisos existem muitos... Quando dizem que os amigos são X,
Y, Z, W, procuram apenas aquilo que não existe porque os outros não estão
dentro de nós e não podemos ser eles, como podemos esperar que um amigo seja X,
Y, Z e W? Dizendo nós que tem que ser A, B, C e D, quando eles são F, G, H e T,
e é assim que gostamos deles, para quê pensar nisso? Dizem-nos que esperam um
abraço “único” apesar da distância se amizades não funcionam à distância nem
com o passar do tempo? A amizade tem um prazo de validade no coração? Convidam-nos
para festas, jantares, saídas, concertos, e na verdade palavras sinceras isso é
com alguém "especial", que nos ame de verdade. Talvez seja por a nossa
amizade ser a brincar...
É o receio de ser-se
envolvido por alguém e por fim, nos usarem? Palavras “bonitas” somos bem
capazes de dizer. Gestos nem sempre se demonstra, ou quantas vezes nos entendem
mal... É o hábito de se fazer o que é suposto fazer-se. É digno te-se uma
conversa. Palavras expressam o coração e a mente, mas se saídas do fundo,
expressam-nos a nós. Quando mais precisares sabes que vais ter de chorar em
silêncio, correr o mais depressa possível, fingir tanto mas tanto, sentir a
solidão nas veias, e tapar tudo isso com o teu sorriso, e na verdade precisares
e não ires. Escreves chamamentos e concordas com pessoas, que na verdade não
conheces, na razão óbvia. Fazes do teu perfil discografias de música, albúns de
fotografias e colecções de frases e pensamentos que não são teus mas é como se
fizessem parte de ti. Parece muitas vezes que tentam alcançar a fama, como se
ela fosse uma montanha e, lá em cima, vemos melhor quem lá está. Isso até pode
ser verdade mas quem está longe sabe que está lá alguma coisa, mas o quê? Prefiro
olhar para o céu. Ninguém tem asas para voar, não pode tapar-me a vista. E se
todos fossemos famosos, desconhecidos nos tornaríamos. Por trás de grandes
vozes e obras de arte estão muitas cicatrizes e mãos, as quais não vemos. Como
a pele de um cão... mascara tão bem! Diz-me que há água no deserto... É uma
ilsuão o que nos fazem acreditar. Fazem-nos crer que a vida é injusta, quando
ela é complicada por nós mesmos.
Os defeitos que
estampamos no rosto dos outros por vezes não é mais que meias com pequenos buracos
na parte de baixo: não faz assim tanta diferença, afinal! Insistimos. Juntos,
dançamos e divertimo-nos, depois nos odiamos. Continuamos a ser bestas, abrir a
janela em dia de tempestade. Pode ser que corra bem. É óbvio que não. Há dias
em que somos obrigados a permanecer em casa e há dias em que não temos de o
fazer. Complicamos demais, tornamos a vida uma autêntica ilusão, com ritmo,
razões e explicações, fazendo o contraditório coincidir com o real.
Comportamo-nos como animais selvagens e ninguém entende isso...
Diz-se. As crianças
trazem cada vez mais doenças raras e problemas. Falta de amor talvez seja a
doença que mais problemas e consequências nos traz. Não nos entenderem, não
sermos amados, e amando com todo o nosso coração. Cada um ama do seu jeito. Não
ponham rótulos na minha ausência. Não rebaixem a minha solidariedade. Não
inventem a minha identidade. Não prendam a minha verdade nem apaguem o meu
sorriso. Há pão que se come, há pão que não se come. É tudo pão e no entanto
nem todos servem. O coração quer-se muito mais que para bater, e muito mais se
pretende de um cérebro que sente, pensa...
Fazem tanto por nós e,
ainda assim, posso dizer-vos que não é suficiente. Façam muito ou pouco é
sempre insuficiente. Porquê oferecer flores ou cartas para impressionar alguém?
Estámos loucos... Substituir a distância e a saudade por flores? Querer ser-se
perfeito em tudo é um erro tremendo, exigir dos outros a perfeição, é o pior
dos erros. As coisas que ficam por dizer... O tanto que fica por dizer... O
silêncio é o nosso melhor amigo, a solidão abre-nos os olhos, as lágrimas
purificam-nos o espírito, o desleixo torna-nos outra pessoa, a fraqueza
traz-nos a força, o medo leva-nos longe.
As embalagens têm
instruções de uso, as pessoas não: já aparecem na nossa vida fora de
embalagens, sem validade, ingredientes, modo de utilização, peso, origem. Aliás,
as pessoas não se fazem, não se criam, mas foram criadas e continuadamente se
criam, sem no entanto terem sido criadas. Não faria sentido elas serem como o
Big Bang, uma explosão de matéria. Pessoas são reais, têm propósito, têm
alegria e tristeza. Mudam, param e pensam.
Somos música? Que
pretendem de nós afinal? Passam na rua por nós e não nos conhecem. Querer
crescer, querer procurar o tesouro para no fim encontrar um cofre vazio. Vazio
de sentimentos, sentimos, vêem-nos lá no alto, sem opção. Cá em baixo somos
meros desconhecidos. Os interesses são uma máquina a trabalhar. É melhor desligar...
Ao menos as palavras não me julgam, e a música sempre encanta. Um coração que
teme não se dá, não cede. A vida é o ceder de tudo, é o enfrentar o perigo. Se
nos magoar-mos haverá solução, a maior das dores é sentir o vazio aqui dentro.
Uma casa vazia. Convida-os para vir, e tudo pronto mas ninguém virá.
Obrigam-nos a isto. É realmente espantoso um sorriso de photoshop ou uma marca
conhecida, o que somos. Até ao esquecimento. Experimenta amassar a embalagem
bonita e nova. Já não a queres... Já pensaste que eles se sentem todos como tu?
Estão na tua posição, amigo...
O que faria um líder sem
um grupo? Tentares que te vejam, quando não te querem ver? Põe as mãos no ar e
sente-te como eles. Precisamos errar as vezes que forem precisas. Precisamos de
precisar de um ombro, deixar de julgar as razões dos outros pelas lágrimas que
derramam. As pessoas falham, o que não implica perde essência. Não desejo ser
um quadro que permanece eterno e perfeito, por muito belo que possa ser. Não
trocaria a minha vida, erros e alegria por qualquer outra coisa. Não me
trocaria por alguém, por muito que os admire ou odeie. Preciso de ser eu e de
não ser tu ou eles. Preciso de estar no meu buraco, de subir a montanha e
rebolar por aí abaixo. Preciso de cair mil vezes, outras mil me erguer. Fogo
aceso, fogo se apagará.
Gostamos deles
exactamente como são, não é por acaso. É absurdo invocar uma amizade que não
pode existir. Não quero ser amiga de alguém alegre que não saiba chorar. Somos
perfeitos precisamente por sermos imperfeitos. Não somos cópias, respondemos a
um mesmo desafio de forma diferente. Algo novo que aparecesse não saberíamos
encarar. Precisamos da diferença, directa ou indirecta. Precisamos da diferença
e indiferença. Aceitem isso e deixem-se de tristezas.
Se pensas que por seres
diferente e te assumes como isso, quem sabe a diferença não te bate com a porta
e te deixa pendurada. Aos que ignoram as realidades, aos que se reservam no seu
mundo, e aos que não o abrem por nada, bem como aos que estão em constante partida,
o tempo é suficiente, o tempo é nosso, do mundo. Quem sabe dar, saberá
certamente esperar. Aceitem a vida como ela é. Aceitem a realidade, e pensem
bem no que fazem.
Não estou aqui para
espiar a vida de pessoas que não conheço, muito menos tenho perfil para copiar
os outros, ou tentar conhecer quem não se deixa conhecer. Há coisas para além
das redes sociais. A internet é um mundo gigantesco, tal como o nosso universo.
E se me querem martelar “crise” nos neurónios, ou ignorâncias, ou parvoíces, deixem-e
disso.
Há que dedicar a vida a
todas as pessoas que fazem parte dela, e da forma certa...