Diz-se que quem é capaz de suportar tudo pode atrever-se a
tudo. Quem sabe não é esse o teu mar, o qual navegas sem perceber. Dentro de ti
resta alguma esperança… Insistes em enterrá-la, mas como um passado de erros e
enganos, voltará mais cedo ou mais tarde para ti. Acordar, por favor… Eras
capaz de olhar dentro de ti, como eu olho, e ver que és alguém realmente
especial? Não fiz por mal… quis apenas acreditar em ti, não pude negá-lo…
Abriste-me o coração à aventura, deixaste-me ir onde ainda não tinha estado, e
hoje estou assim. Ainda não consegui regressar da minha viagem , e estou
ansiosa por chegar a casa. Casa é sempre casa: aquele espaço acolhedor onde
podemos permanecer infinitamente, aquele repouso quietante que nos guarda…
Regressamos com memórias na bagagem e sorrimos pelo que passou. Quem me dera
pudesse o tempo voltar atrás e eu voltar a conhecer-te? Poder dar-te um
primeiro sorriso, um primeiro abraço, um encontro eterno que nos unisse para
sempre? Poderia voltar atrás quando quisesse… Melhor mesmo é poder voltar a ver
tudo isso nitidamente na minha memória, como das outras vezes. Poder negar que
acredito em ti, que tens uma luz tão forte? Que me faz querer estar aí a olhar
por ti? Poder ser o teu anjo e guardar-te? Poder ser isso? Não importa que não
me vejas, pois o amor que guardamos dentro é mais forte que tudo o resto. Ele
constrói o mundo, não podes negar. Deixa-me transformar essa dor que levas
contigo à tanto tempo. Estou aqui sempre! Estava perto do sonho, pisando as
estrelas cheguei à Lua. Querer ser o teu céu azul e o céu neblado e cizento,
ser o teu chão, o teu ar que respirar e te envolve, ser os teus sonhos,
memórias, o teu dia, passado, o teu futuro, aventuras, ser o teu pensamento,
sentimento, emoções, o teu ser, a tua beleza, o teu sorriso, a tua vontade, a tua
incerteza, sonhos, medos, desejos, dúvidas, sinceridade, o teu quarto,
promessas, bilhetes espalhados pela casa, os livros que lês, as tuas palavras
escritas, ditas, pensadas, o teu olhar, a tua boca, a tua mão… E o teu andar,
parar, viver, arrrrrrrrrrriscar, esfregar, cantarolar, a tua acção, a tua
impaciência, a tua persistência, teimosia, o teu discurso, espelho, quebrar,
construir. As tuas paredes e muros, as tuas pontes e ligações, o teu coração, a
tua língua, a tua saliva, o teu sangue, a tua preocupação, os teus riscos e sarrabiscos,
os teus momentos, instantes, e murmúrios, a tua música, o teu ouvir, o teu
sonhar, sonhos, pesadelos. Ser algo que me ligue a ti como tudo aquilo que te
afirma como alguém. E eu não posso viver sem ti. Porque sem ti a vida perde
sentido, pode ruir, pode ficar uma chuva persistente e imensa. Poder abrigar o
coração dessa tempestade. Mas quero continuar a olhar para ti quando dormes. E
acalmar-te a tua inquietude. É querer apagar a tua pequena dor, não fujas de
mim assim… deixa-me transformar a tua lágrima inexistente num sorriso neutro.
Só mesmo tu consegues transformar esta realidade. Só tu… Existes dentro de mim.
Sabes quanto isso é imenso? Tu és firme, em ti todas essas pequenas coisas
fazem de ti aquilo que és para mim, e todas essas coisas te tornam parte de
mim. Deixa-me ser uma delas, pelo menos… É apenas um desejo profundo meu…
Quando me abraças, sinto-as todas a fazer sentido, e a fazer-me desejar-te como
mais nada consegue. Não sou capaz de te deixar sair da minha vida. Não gosto da
companhia da tristeza… Agora não… Abraça-me por favor… Suportarei a tua
despedida, a tua distância, a minha tristeza em ver-te ficar cada vez mais
longe do outro lado, que mais custa que isso? Somos fortes o suficiente para
vencer esta etapa. Deixa-me ser algo em ti. Peço-te… resta-me pensar que “perto”
vem mais depressa do que penso. E chega.