terça-feira, 6 de setembro de 2011

Os Gatos, os Amigos e as Memórias

Este pequeno aqui no meu colo, sobre o meu braço, brincando. Fico contente só de o sentir assim, perto de mim. Adoro gatos, desde pequena que sou doida por estes animais. Muitos dizem que não gostam deles, assim em jeito de quem diz que não os suporta, sabe-se lá bem porquê. Eu cá encaro este animal centenário como um companheiro de características mais que fabulosas. O Gato é simplesmente genial. Não acredito lá muito naquela história das 7 vidas, mas que é resistente e cheio de façanhas, lá isso é! Uma espécie de herói, no qual encontro também algo de meu. Dizia eu, já cheia de convições: se fosse um animal era um gato! Ainda hoje, se tivesse que ser um animal, sem dúvidas, o gato era o meu eleito. Grandes amigos foram os meus gatos. Sei que já lhes preguei partidas, mas acredito firmamente que eles, sem palavras nem gestos específicos como os nossos me ensinaram muita coisa. Entre horas de brincadeiras, sentada ao pé deles, ou no quarto, ia buscar o pequeno Verdi, aquele gato laranjinha que tanto adorava. Inicialmente, Pavarotti, mas Verdi assentou-lhe melhor. Soa sempre melhor. Bem, fartei-me de chorar quando o perdi - aliás, se chorar é o termo mais correcto para quem liberta rios e rios de lágrimas, eu cá fazia as minhas tempestades incriveis de choro. Em tom sério, era uma perda de um amigo. Um amigo é alguém, ou mesmo algo que nos toca profundamente: é o necessário! Suspeito que tenha sido a vizinha a envenenar o pobre do bichano, lá com a intenção de exterminar os fedorentos roedores... De qualquer das formas, fiz questão de guardar uma pequena recordação dele. Actualmente, está numa das minhas caixas, debaixo da cama. À medida que o tempo ia passando sentia que aquela sensação de já não mais poder tocar no pêlo dele ia desaparecendo, mais as lágrimas derramavam sobre mim. Entristeci muito, nesse dia. E os seguintes não eram melhores... O problema era agarrar-me demasiado a eles. Sabia que mais cedo ou mais tarde, os meus Amigos me deixariam. Talvez por isso, a eterna juventude nunca me seduziu. Era demasiado triste para mim ver todo o meu mundo partir antes de mim. Depois de mim, seria outra coisa. Antes, nem pensar! Mas nem queria saber! Durasse o tempo que durasse queria aproveitar ao máximo o tempo com eles. Tive montes de gatos. Talvez já não saiba dizer exactamente o que me levava a amá-los tanto. Algo tão forte, e sem explicação! Às vezes é estranho pensar... As pessoas da minha idade, já pensavam em sair com os amigos, talvez mais fazer aquelas dormidas em casa das amigas, e contar as suas aventuras e romances. Eu não! Dispendia o meu tempo com aquilo que não importava a muitos. Terá sido uma das razões pelas quais a minha adolescência tenha sido bem mais ligada ao meu espaço que propriamente a explorar o mundo lá fora. E o que era o mundo lá fora? Via-o eu da minha janela. No meu jardim respirava o ar só meu. No meu quarto guardava histórias que ainda hoje não partilhei com alguém. A gente perde o seu tempo a arranjar amigos reais - não que os meus não sejam! - e adiciona-os nas redes sociais e messenger. Penso que é uma autêntica perda de tempo. Os meus amigos (uma parte deles) nem sequer sabe ler, ou falar. E que importa isso? Quando passo, eles chamam por mim, seja de que forma for. É uma alegria ter a casa repleta de amigos desses! Talvez tenha sido uma das razões que me tenha levado novamente a desligar-me do facebook... Por lá perco tempo que talvez o ganharia em outra coisa qualquer. Este pequeno continua a fascinar-me! Brincando, brincando, brincando, e com tanto ainda para aprender, dá a sensação de que ainda tenho mais que ele a aprender. Contraditório, não? O que ele não precisa de dizer e fazer para mostrar que o tempo ali não se perde, de jeito algum! Ele não pensa sequer, não da mesma forma que eu, ainda assim, não consigo negar-lhe partilhar algo com ele. Tem 2 meses, ou nem isso. É um gato. Fez-me lembrar tanto assim do nada, pelo simples facto de o agarrar, e o mimar. Adoro fazê-lo. Se tivesse um Amigo idêntico a mim, seria um tanto arriscado fazê-lo. Um Gato é muito mais que um Amigo, e por mais que lhe faça, ele nunca deixará de o ser, mesmo que o agarre e me farte de o beijar e abraçar, não me verá como mais que isso: um Amigo! Ainda que o magoe, ele virá ter comigo, como se nada tivesse acontecido. Bem, às vezes, não é tanto assim... E apesar de tudo, sei que um dia posso perdê-lo, e ficarei triste. Ainda assim, nego-me a perder esta oportunidade. Como uma criança continuo a conquistar o mundo, e o momento. Adoro os gatos. Leva-me a pensar que nós, humanos, complicamos demasiado a realidade. Só não podemos negar aquilo que somos, bem mais que gatos, obviamente. Permanece em mim, um desejo profundo de querer poder amar sem receios ou dúvidas este mundo, que tanto carece. E não são gatos que cruzam o nosso olhar; é bem mais que isso! Talvez seja a simplicidade deles que me atraem. E a sua coragem, o seu sentido solitário, independente. E quando a gata dá à luz os seus pequenos ela protege-os, ainda que um dia vá seguir o seu destino, cuida deles. Assim, é a Binkas, uma gata que nos tem acompanhado à já 10 anos. As gerações de filhos que nos tem presenteado sempre são um momento de alegria. Verdi, Morgado, Mozart, Pilinhas, Caramelo... Mozart era irmão do Verdi, se bem que branco e idêntico a um persa, era sensível e muito querido pela minha mãe. Fez-me chorar quando voltava de um viagem de estudo. Estava radiante pelo facto de poder estar com ele. Enganei-me... A minha mãe acusavou-me muitas vezes de ter sido demasiado rude com ele. Eu cá não acho. Adorava brincar com eles, e aperta-los até mais não. A intenção não era má, juro! Dele nada restou se não a memória. Pilinhas, foi outro dos gatos que nos marcou. A disputa por quem gostava mais dele também era grande. Na verdade, foi um dos meus escolhidos da ninhada. Ninguém se atrevia a dá-los. Gostava deles. Era chegar da escola e ouvi-los a miar à porta. Querem entrar! E deixava-os entrar. Ia lanchar e eles andavam à minha volta a miar, miau miau. Enfim... O Caramelo e o Morgado ainda cá andam. Às vezes fazem das suas, e ficam de castigo. Mas são apenas gatos, esquecem-se disso! Quando estámos tristes, ou não, lá vêm eles todos pimpões miar-nos. Oh, gostam de nós. E ainda que façam asneiradas, ainda que não se calem, ainda que fujam, apenas quero uma coisa: poder abraçá-los amanhã novamente! Só isso! Sei de côr aquilo que eles gostam e que não gostam, onde costumam estar, como são. Cada um com a sua personalidade vincada. Resistem 4 gatos, e 4 pequenotes. Fazem um reboliço cá em casa, todos juntos. Fazem as necessidades onde não devem. Sempre activos. À tarde andam por aí. Ao almoço e ao jantar fazem-nos companhia. Juntam-se aos cães, às pessoas, e ao que vier. A vida deles é uma rotina, suponho, mas nunca deixam de gostar de nós. Acredito que não. É o que importa. Decidi, portanto, dedicar-lhes este post, como forma de agradecimento mais sincero. Ainda que nunca possa justificar este gostar, penso que também não há necessidade de tal! Basta gostar, e pronto! São 8 Amigos que entraram na minha vida não sei bem ao certo, mas só posso agradecer por isso! Espero poder partilhar mais momentos assim. Sei lá eu se me percebem como desejo, no entanto, há coisas em nós as quais não sabemos ao certo que dizer. Sentimo-las, existem, e não têm explicação certa. Talvez seja esse o fundamento da Vida: existe, é sentido intensamente, mas não conseguimos explicar exactamente porquê, ou como. São coisas da Vida, como se costuma dizer. Assumo-me essencialmente, como alguém sensível. Não alguém que chora, ou que se restringe de cenas violentas ou sexuais, mas alguém que sente; alguém que sente de facto. Desde sempre me lembro de ser assim. Um dom, ao mesmo tempo que nos condena ao martírio. Este post também é dedicado a todos aqueles a quem eu talvez não soube exprimir ao certo o meu tanto gostar. Por vezes, erramos. Por vezes, a nossa forma de ser leva-nos a fazer exactamente o que não queremos, ou então, não daquela forma que pretendíamos. Talvez a nossa complexidade nos leva a sentir tristeza em lugar da alegria. Por vezes, aqueles que mais nos alegram são os que mais nos sujeitam a lágrimas. É mesmo assim. A complexidade do nosso ser também sabe dar uma pequena ajudinha e levar-nos noutro sentido. O que vale é que são mesmo assim: Amigos! Talvez não andem a brincar, a brincar, a brincar por aí e a fazer-nos sorrir com as suas incríveis acrobacias. Talvez não vivam tam-pouco assim, e muito menos não sejam capazes de partilhar a mesma linguagem que a nossa. Ainda assim, sou capaz de sorrir ao pensar neles, ainda que sejam o que sejam. Há tanta coisa que passou... Mas dá um pouco a sensação de que há-de vir mais, por mais que se tenha passado. Esses já não estão nos nossos braços, muito menos são pequenotes, mas ocupam um pequeno espaço no meu coração. Esses também são Amigos. Também nem toda a gente é capaz de os ver como eu. Dizem que tal, justificam-se com talvez falsas convições, porque sim, porque sim. Eu cá confio na minha intuição, e não falho. Amigos são acima de tudo, parte de nós, e é a eles também que dedico este post. Não são gatos, ora bem, mas neles também me revejo um pouco. Admiro-os pelo que são e não são. São corajoso ao seu jeito, aproveitam a vida, e quando estou com eles, o meu coração enche-se de alegria, ainda que possa sustentar lágrimas no olho. É com saudade que guardo estas memórias. E atrevo-me a condenar firmamente quem diz que seria tudo bem mais fácil se não existissem memórias. Para mim, memórias são dos bens mais preciosos que alguma vez tive. Graças a elas existo, e sou feliz. Esses Amigos já não são 8. Bem... para dizer a verdade... não sei ao certo quantos são... alguns são, com certeza. Mas o tempo passa. O melhor mesmo é aproveitar antes que o vento os leve, e fique aqui a chorar profundamente essa tristeza... Obrigada a todos eles. Obrigada.


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