domingo, 12 de junho de 2011

Restos de uma socidade

[Quarta-feira, 26 de Maio de 2010]


Ouvir as pessoas não é assim tão complicado quando isso, falar com elas tão-pouco. O egoísmo está sempre nas veias mas isso vence-se, acredito que sim. Agora pergunto: será que as pessoas precisam realmente de ser ouvidas? Ou chegarão a fingi-lo, tanto quanto o amor que pelos outros sentem, ou mesmo o ódio? Bom... a minha experiência têm-me revelado umas quantas pequenas coisas. Fazem toda a diferença. Reparem: vocês vêem determinadas pessoas, que ninguém se atreve a aproximar, mal lhe falam. O que têm elas de mal? Aspecto? Personalidade? Hum... estranho... já alguém se deu ao trabalho de chegar perto e partilhar umas boas longas horas de conversa? Talvez não... Talvez o receio de sermos um «aparte» seja maior. Pois eu cá, tenho sempre aqueles momentos de pouca coragem e dou-me ao trabalho de perceber essas pessoas, puxar cá para fora algo bom, alguma confiança, alguma auto-estima, algum reconhecimento. Sim e vale a pena! Um dia mais tarde acordamos e já essa pessoa nos passou à muito. Quem é o quê? Agora e sempre isso acontece de alguma forma... no fim acabamos nós por ocupar esse lugar «aparte». Uma boa pergunta realmente... Será que vale a pena tentar mudar as coisas para algo melhor? E depois sujeitámo-nos a sermos nós o centro das atenções desconfiadas? Boa pergunta again...Já se aperceberam disso? As pessoas à medida que sentem confiança, vão ganhando aquela arrogância natural até que se corte pela raiz e entrem num novo mundo, mais ou menos desconhecido e recuperem o seu estatuto. É justo? As pessoas lutam por isso, dão o seu contributo, e talvez o mereçam. O mundo está assim por alguma razão: a nossa razão, a nossa vontade!! As pessoas d’alguma forma querem ser o centro das atenções e aí tudo muda, sobe-se bem alto, mas um dia alguém ou algo nos faz cair, faz-nos ou obriga-nos a revelá-lo, querendo ou não, acabando por mudar. E o lobo mau passa a ser o capuchinho vermelho, ou a avozinha. Será que devemos então esforçar-nos para tentar ajudar essas pessoas?


Há aquela forte tendência para criarmos grupos. Em que se baseiam esses mesmos grupos? Já pensaram que nem todos pretendem isso? Sentimos um certo àvontade quando nos encontramos junto daqueles que supostamente melhor nos percebem, nos ajudam, partilham connosco os momentos e o que mais vier. E um dia, há um imprevisto que nos impossibilita de estarmos juntos com eles. Que fazer? Será que alguém mais nos vai aceitar? Será que nos vão mirar o olhar da condenação sempre que dermos um passo em frente? Ficar no nosso canto a morrer de desespero por não ter alguém? Ou ter que se sujeitar as regras dos outros em troca a aprovação, ou espécie de disso? Só quando chega ao nosso prato percebemos o desespero daqueles a quem chamamos de «apartes da sociedade» (se já não se habituaram a isso...). Por vezes, um simples olhar não engana. Por eles não quererem sujeitar-se às regras dos outros não têm direito a um lugar? Temos que nos tornar cópias uns dos outros para chegar mais longe, ou não sermos discriminados? Somos o futuro desta humanidade se seguirmos os ideais de alguém, que nem sempre olha para o bem-estar dos outros (não só bem-estar...)? Não haverá necessidade de defender os nossos direitos, desejos, medos, formas de pensar em nome de uma amizade e mesmo da sobrevivência? Será que já atentaram ao facto de gente «diferente» ter mudado o mundo?


Foram algumas personalidades reconhecidas mundialmente, os quais eram vistos inicialmente como «malucos» [Leonardo da Vinci, Jesus Cristo, Martin Luther King, Dalai Lama, Einstein, Michael Jackson, Fernão de Magalhães, Sócrates, José Saramago, Madre Teresa de Calcutá, Bin Laden, Pasteur, Freud, Braille, Walt Disney, Hitler...] que, vieram mudar o mundo, de alguma forma. Aspectos positivos ou negativos mudaram algo. Fizeram as pessoas questionar outras possibilidades. Não são senão pessoas diferentes, capazes de admitir a sua diferença, mais, admitir que os seus ideais poderiam, de alguma forma, mudar o mundo. Apesar de poderem causar mal-estar a uma grande maioria, acreditaram que seriam capazes de trazer benefício a uns, mesmo que uma minoria. Todos merecem o seu lugar, a sua dignidade. Esses ousaram enfrentrar o terrível «Adamastor» do mundo. Resistiriam à Indiferença, à Revolta, à Ignorância. Diferenças trazem sempre o desagrado de quem beneficiava até ao momento da inferiorização dessa minoria. Por terem diferentes opiniões temos que aceitar como certas, ou como absolutas? Que pesa mais: o medo da rejeição ou a possibilidade de enfrentar a mente comum das pessoas?


Se um dia tomarmos o lugar deles, percebermos o que é sentir aquele fardo... Imaginem se isto se prolongar... Então aí ou bem que migramos para onde pouca gente perceba a situação ou para os wc's (também é uma opção!). O mais complicado, ou talvez não, é tentar calcar território inimigo, conseguir a aprovação de todos e a união de um novo grupo. São todas opções complicadas para nós. O mais certo é tentar a última opção, talvez aquela que permitirá um futuro menos doloroso e futuramente mais agradável. Como queríamos ter mais consideração pela parte dos outros... Eis que chega esse dia... [Será que chegou de facto?] Provavelmente... O tempo está passando e pouco tempo falta... as despedidas, chorar pela partida, a separação custa sempre tanto... [O fingimento é suspeito...] Passam as férias... regresso agora a um ambiente totalmente diferente, cheio de caras desconhecidas e apetecíveis (hum...) E tudo tem que começar de novo... custa? Talvez não... Aí está a nossa oportunidade de brilhar, fazer grandes amizades, ocupar um alto estatuto. "Ninguém" se conhece, em breve formarão grupos e grupinhos... Ofensa a um dos membros dele é sempre motivo para mandar bocas [bocas não se mandam, elas estão na cara ;-) ]. Um dia isso muda. As pessoas entendem que já nos conhecem como a palma da mão delas (gente comum é normal que seja tão previsível...) e querem mudar o rumo, virar o barco. Começam as jogadas falsistas e facetas sorridentes e super amarelas... Já este diz que aquele isto, e aquele dirá que o outro aquilo e o outro virá deitar a sua vingança aos nossos pés, isto porque o ataque é a melhor defesa. Ninguém quer saber se é justo ou injusto, se é verdade ou nem por isso. Só se encarregam de tirar a fama de cima de si mesmos, fingindo um tanto a amizade. A amizade tem valor? Não, é a amizade que procuram estes, somente companhia e uma tentativa de serem o centro das atenções. Boa pergunta... Se alguém desse valor a uma amizade, não se restringia só às Leis da Amizade. E quais são? Nenhuma em concreto, pois, eu cá considero que dar uma pequena grande parte de nós é sempre justo. É válido. As pessoas sabem sempre o que é moralmente correcto fazer e o que não fazer. Sabem muito bem o que não se deve saber [bem demais, até!] Jogam sempre da mesma maneira, até mesmo quando querem deitar o próximo abaixo (se bem que aquilo que pensa ou mesmo sente não é o mesmo que aquilo que faz crer...). Fingem ouvir as pessoas quando elas mais precisam, fingem ser amigos, graças ao senso comum, que diz aquilo que «toda» a gente faz e não faz, segundo a sociedade em que estamos inseridos. Quando mais precisas delas não estão lá de facto, só se por elas chamarmos (e mesmo assim...) Face às infelicidades não sabemos como reagir de verdade, já face às alegrias todos mostramos o quão agradável é estar assim.


É certo... o egoísmo é dos maiores conductores das acções humanas; agir em função daquilo que queremos, muitas vezes, ou mesmo sempre. Não é vontade de quem quer que seja sentir-se reprovado, afastado ou mesmo sentir que somos diferentes; neste caso a diferença é vista como razão de reprovação. Pretendo sublinhar a importância de nos colocar-mos em várias situações e prever isso mesmo. O senso comum não nos traz respostas certas, possivelmente as mais aceitadas, mais fáceis aos olhos dos outros, nem sempre aos nossos. Isso sim, nada mais! Contudo, é o senso comum que tem uma forte ligação, em especial, ao precoceito. Somos bem mais que seres irracionais. Eles (seres irracionais) agem assim, nós temos que usufruir do nosso potencial, temos que fazer valer a dita «superioridade humana». Sim... há necessidade de hierarquias para que uma sociedade funcione perfeitamente e uma certa necessidade de criação de grupos mas precisam eles de ser desta forma? Há necessidade de haver rivalidade pura e violência gratuíta? Seremos bem mais sucessidos ou então, felizes se houver esta rivalidade? Depende e muito das nossas acções. Não quer dizer que um hematoma seja sinónimo de infelicidade, não necessariamente. Há dores que trazem felicidade, por mais contraditório que pareça. O sofrimento nem sempre é feito com o propósito de provocar infelicidade a quem quer que seja, enquanto que a indiferença muitas vezes traz mais despero que por vezes uma palavra desagradável...


Falar das acções humanas, e das relações é algo tão complexo, que tem sido alvo de imensos estudos até. Não cabe só aos psicologos, psiquiatras, psicoterapeutas, sociólogos e restantes (peço desculpa não mencionar os nomes de todos os outros) perceber isso. Se todos nós tomassemos atenção, até mesmo a determinadas situações do dia-a-dia e reflectissemos sobre elas, talvez muita coisa mudasse. O maior objectivo deste blog é certamente alertar, consciencializar o nosso papel, bem como o dos outros. Não há necessidade de pensar em não fazer aos outros aquilo que não gostamos que nos façam a nós. Não. Há que pensar antes que cada um é diferente e se percebermos cada qual do jeito que é, talvez os outros mais nos respeitem. Talvez até assim tenhamos mais respeito por aquilo que somos. Se não nos respeitam, temos o dever de o exigir. E é errado pensar que temos que fazer o bem aos outros por o que quer que seja. Não é tão necessário quanto isso. Há sim que ser-se justo, sobretudo, connosco mesmos. Vivemos em sociedade e precisamos tanto dos outros como de nós mesmos. A justiça é nosso dever, e também nosso direito.

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