sábado, 25 de junho de 2011

Manual do Viver

Nascemos de forma igual. Em princípio o ventre de uma mulher leva-nos por cerca de 9 meses, qualquer coisa como 30 e tal semanas. Uns mais, outros menos. Já dentro da sua barriga vamos sendo seleccionados, transformados, crescendo e tecendo pré-aventuras. Já dentro e já nos espera muita coisa. Sempre esperam que essa criança ame e seja amada. Que seja criança, adolescente, jovem, adulto e por fim, um velho. Que um dia precise dos pais, outro dia seja mãe, pai, avó, avô, tio, tia, madrinha, padrinho. Que seja gente, que vá à escola, trabalhe, crie e deixe o seu legado à descendência. Espera-se que mulher aja como mulher, e homem como homem. Que se apaixone, que erre, aprenda, ensine e aprenda, corra, ande e cai, que sinta, pense, coma, beba. Toda a nossa existência está pré-programada à nossa imagem e semelhança. Pretende que seja honesta, justa e feliz, pacífica, compreensiva, altruísta e acredite. É-se programado à face dos outros, e tudo o resto advém disso. Temos sonhos e desejos comuns, tememos os mesmos medos, vemos as mesmas estrelas no nosso céu, e o nosso sol ergue todos os dias. É justo que assim seja. Que todos partilhem, e deixem algo novo, ou algo melhor, e que a Humanidade nunca acabe. Que a água mate a sede a todas as pessoas e que o pão acabe com a fome. Todos desejamos que haja paz e alegria em cada canto do mundo, isso tudo num mundo redondo. O mundo é demasiado grande para acabar um dia. O mundo é tão grande. Há vida e saber.


Do outro lado, sabemos que há injustiça, fome, doença e morte. Há ignorância, hipocrisia, mágoa, rancor. Há medo, há abismos e escuridão. Uns trabalham para que outros possam descansar. Outros são seleccionados por aquilo que levam, e os que o não tenham são esquecidos. Alguns mal têm que comer, outros nascem deficientes, os que não sabem de que cor é o sol. Os que gostariam de poder olhar e fantasiar com a imensidão das estrelas; elas estão longe, são pequenas e nem sempre vêem visitar-nos. Uns roubam pão, outros roubam mão. Uns não têm sonhos, outros não têm alegria. Os que sabem que a justiça é ficção, e que o visível se pode explicar de algum jeito. Não há fé, não importa o que sabemos, ou o que somos. Moscas são desnecessárias. Quem é o meu pai? O que faz a minha mãe? A água está poluída, as falésias destruindo-se, os muros são agora pontes, as batatas envenenam, palavras não existem. Programados para morrer, acabar o que um dia começamos. O mundo é pequeno, as mesmas pessoas fazem os meus gestos, dia após dia, e vivem o que é para se viver. Que estudem, trabalhem, sonhem, vivam: não importa o que faço, ou o que sou. Eles precisam de nós, e nós temos o que eles precisam. Mentira não existe. Dentro dessa barriga só começou aquilo que nunca vai acabar: o sofrimento e a nostalgia. Os pratos partem, os rios podem secar. Há quem não tenha nada. Têm casa, carro, família, amigos, sonhos, livros, internet mas não conseguem sorrir. Sorrir não é ser feliz. Ri-se, não se sorri. Ninguém pensa em nós, pensam em si mesmos. Os livros são demasiado grandes e grossos para que eu possa ter tempo de os ler. A vida é injusta. Não compreendo ninguém. Deus existe? Pontos e mais pontos, acrescentam tantos pontos que já nada tem gosto, Já nada existe. Há tristeza porque um dia o mundo vai acabar.
 
Não há mundos que sigam uma só regra. A ideia fixa-se á perfeição contendo os 2 lados. Os 2 lados fazem parte de nós e do mundo. O mundo não é nosso mas é. Vive-se não porque um dia vamos morrer. E se morrermos não acaba nada. Deixa-se cá alguma coisa nossa, mesmo que não deixemos nada. Passamos na vida dos outros com o gosto que eles por si próprios. Não se acredita por todo o mundo ser assim. Não é nem deixa de ser, o mundo é o nosso reflexo. Se não acreditamos nele muito possivelmente é por não conseguirmos encontrar-nos nele. Talvez não consigas encontrar-te em ti mesmo. E insistir nesta ideia de que o mundo não é feliz, não é justo é errado, é mais que injusto sequer pensá-lo! Devíamos ser presos por permitir que a nossa capacidade de crer em algo tenha quase que morrido. Nem em nós parecemos acreditar! A vida não é injusta, muito menos a vida perdeu o seu gosto. Deita sal na Vida se pretendes saboreá-la um pouco mais, ou então pensa antes em saboreá-la do jeito que ela é. E vou ter que te dizer isto? Sabes disto melhor que qualquer um! Então pára de culpar tudo e todos. A culpa é tua.
Por vezes, recuso-me a dar a mão. No passado dei-a, e alguém me magoou. Hoje deixei de o fazer por tal ter acontecido. E quem me garante que essa pessoa não vai ser diferente? E se não for? Onde estaria o errado ao dar-lhe a mão? Se lhe der dou aquilo que acho que devo dar, e não dou assim tanto de mim. Pode parecer que sim, mas não. Nunca damos demais por alguém. Simplesmente damos a quantidade certa. E para mim é importante, para ti já não é. E se não é também não quer dizer que me tenhas magoado. Temos medidas diferentes, o que não faz de nós estranhos, insensíveis, superficiais ou desinteressados! Às vezes preferimos beber vinho pelo seu sabor um tão mais agradável e isso alegra-me. É certo. Coisas boas nunca devem deixar de ser saboreadas. A água é igualmente saborosa. Na medida dela, é! Aprendi depressa a saborear o vinho, mas a água tem o seu próprio sabor, demoraria bem mais a aprender a saboreá-lo mas chegaria lá. É essa a verdade da vida. É o tempo que dedicamos a cada coisa. Tornam-se hábitos, rotinas. Dei-lhe tempo e deixei-lhe a porta aberta para que tal acontecesse. Ou então, coisas não tão boas, deixei-as ficar, vão demorar a sair se quiser que saiam. Mas saem. E sair porquê? Porque é pouco saudável? Porque me dizem que é pouco saudável? Porque vejo toda a gente a entendê-la como pouco saudável? Ou porque muitos a recusam? Porque acham que é pouco saudável? Ou porque eu quero? E se quero, é porque me acho capaz de enfrentá-lo? Ou porque quero mostrar que sou capaz de o enfrentar? Mostrar a quem? A mim? A ti? A quem quer que seja? Aos mais impressionáveis? Juro-te que não conheces ninguém, nem mesmo a ti próprio. Sabendo isso, já é motivo suficiente para sentir que sou alguém. Só por saber tal coisa sinto que tenho uma razão forte dentro de mim: a da auto-descoberta, a de explorar a vida, a minha vida! E nunca me terei conhecido por completo, por mais que ande. Portanto, é uma razão forte para toda a vida, se quiser. Seguir o meu ritmo não pode, em caso algum, tornar-me diferente, nem difícil de perceber ou mesmo ser razão para me isolar dos outros, ou fazer-me sentir que a minha vida será complicada de mais para conseguir seguir até ao fim, ou que me perderia pelo caminho. Sou eu que estou lá. Seguir um caminho que escolhi não é razão suficiente para alguém não gostar mais de mim. Quem gosta verdadeiramente de nós nunca fará isso porque afinal, os que gostam de nós nunca nos deixam, onde quer que seja. Porque te pintas de amarelo deixas de ser quem eras? Ou porque não podes falar deixas de amar? Deixas de ser amado? Ninguém tem o direito de se recusar amar e ser amado!
Por outro lado, é impossível que nos conheçam, se não deixarmos que tal aconteça. E se acontece, nós temos uma impressão, a que damos, outra impressão, a que achamos que damos, uma terceira, a que eles percebem de nós, e uma quarta, o que eles mostram que perceberam. Conclusão: são 4 impressões, todas diferentes. E ninguém aqui é pouco ou mais honesto por fazer, ou não, coincidir algumas delas ou mesmo todas. Estás redondamente errado se por acaso pensas assim. Estás absolutamente errado se sequer pensas nisso! Estás a perder o teu tempo. Deixa-me que te pergunte honestamente: qual a razão de fazeres coincidir as impressões aos olhos dos outros e mesmo aos teus? E elas precisam de ser diferentes? Estás a perder muito mais que tempo! Estás a magoar-te a ti mesmo, interiorizando que os outros ou não te compreendem, ou mesmo que te estão a magoar. Não tens o direito de te magoar a ti mesmo/a, de obrigares a magoarem-te, e até a magoá-los por te terem magoado! Não tens o direito de te inferiorizar! É desnecessário e errado! Tens o dever de viver, aprender, e até errar, desde que sejas feliz! Tens o direito de pensar o que quiseres mas nunca te permitas ferir quem tu és! Tens a vida toda pela frente, tens tempo para cada coisa da tua vida (vamos chamar-lhe rosa, em vez de “coisa”). E não tens esse direito porque a vida é tua. Tu é que és da Vida! Não temas que a Vida te guie. Nunca te vão perceber do jeito que esperas ser compreendido, e então? Que importa isso? Tens de ser feliz, se te percebem ou não isso realmente não importa. Não tens de interpretar cada gesto de cada pessoa que te interrompe ou quem quer que olhe para ti. Sabes bem que não vêem além dos teus olhos. Eles vêm a cor dos teus olhos porque os viram. Se lhes dissesses que eram azuis e de verdade, fossem castanhos, eles aceitariam se não os pudessem ver! Se podem vê-lo vão tirar outras conclusões. Vendo ou não, o poder de perceber os outros, de tornar esse sol mais que uma mancha amarela no céu, reside em cada um de nós. Põe-te no lugar deles de forma justa. Por isso mesmo, não percas o teu tempo a mostrar algo que pretendes que “vejam” em ti. Não consegues pôr-te no lugar deles. Sê antes tu mesmo/a. Deixa que eles sejam quem são. Se eles vêem ou não, isso nunca poderás mudar. Vais viver pior por isso? Um dia eles mudam! Não se vão recusar a gostar de ti, isso te prometo! Somos diferentes, somos, mas ninguém é como tu! Existe muita gente sim, existe, claro que existe, mas não como tu! São eles que perdem a oportunidade de terem alguém como tu na vida deles. És gente, orgulha-te disso!
Marcar as nossas acções segundo um jeito reconhecido “universalmente” como certo/errado é errado. Somos diferentes. O teu jeito é errado? Talvez tenhas pensado que o teu jeito é o certo, ou pelo menos, não é errado. Parece algo óbvio para todos nós, “gostos não se discutem”, é certo. Contudo, continuo a achar que me pareces agir do jeito que aprendeste que era certo, e pensarias tu que não foi o que aprendeste mas aquilo que sempre foste. Aprendemos dentro de determinadas condições, a ser quem somos, produtos de variáveis bio-sócio-culturais. Somos esponjas sociais. Absorvemos demasiadas coisas, para que sejamos indiferentes; digo eu, tu e o resto. Não somos tão indiferentes quanto queremos mostrar que somos. Erramos por pensar que os outros deixam o mundo assim, semelhantemente quando se pensa que “o mundo é injusto”. E é. Mas quem faz parte dele? Nós, os tais produtos bio-sócio-culturais, fazemos parte dele. Como podemos querer que o mundo mude? O mundo está sempre em mudança! Não achando que o mundo está melhor soa-me aqui que há ponta de cepticismo, um pouco de ignorância crescendo dentro de nós, porque o mundo está mudando, nós mudando, e sempre pensamos que o mundo fica pior, que nunca muda. Esquecemos que muda ele, e mudamos nós. Muda ele porque mudamos nós, e mudamos nós porque muda ele! Mais uma razão para dizer que recusamos acreditar num futuro melhor, e mesmo que seja pior, não há um lado bom naquilo que acontece? Há. Eu própria tenho que admitir que há coisas que magoam, doem e nos incomodam tanto, para um dia, cair em mim, e chorar por ter achado que a vida era injusta comigo, e afinal, por causa disso descobri algo fantástico. E não é, agora’ temos de aprender do jeito que das rosas. Tenho de agradecer aos ignorantes, aos injustos e aos ditadores, aos desiludidos e aos que perderam a fé porque graças a eles sinto-me melhor por ser aquilo que sou. Não por ser diferente deles, mas por ser quem sou. Não me comparo com quem quer que seja. O mundo é perfeito tal como é, por ter os 2 lados da moeda. Eles erram, nós corrigimos. Eles destroem, nós construímos. Um dia corre mal, noutro já não. Entristece que se recusem a admiti-lo, quando preferem pensar que ninguém quer saber deles. Talvez se eles não pensassem assim, se mudassem a forma de pensar, e não se aprisionassem na aprovação do mundo, mudaria aquilo que tem de ser mudado. E os sonhos não acabam hoje!
Haverá alguma coisa que precise de ser mudada? Tudo está em constante mudança. O próprio facto de pensar que algo precisa de mudar é tão óbvio como pensar que ao comer não vou ter fome: alguém precisa de o dizer? Não é preciso entristecer a pensar nisso, ou sequer questioná-lo! Deviam, se afinal a mudança é inevitável, encaminhá-la no bom sentido. Parem por um momento e acreditem! Absorvemos desânimo porque isto e aquilo acontece, por pensar que as coisas boas duram pouco tempo e as opostas duram demasiado tempo. Se gostariam de prolongar as coisas boas e não conseguem, ou então, deixam que as más vos consumam mais do que é suposto, não se acanhem! Não que as coisas “más” durem muito, elas duram o necessário. Desgastam-nos tanto, aparentam ser mais fortes e prolongam-se no tempo mais do que são. Erguer custa, e mais quando há dor, ou ferida, mas nada é superior à nossa força. Absorvemos pensamentos pessimistas, que a vida é curta, e que pode não continuar pois não sabemos o que está do lado de lá da porta. Não precisamos de saber o que está do outro lado da porta. Temos uma vida para viver. Complexa-se a realidade exageradamente. Além disso, o constante querer perceber a realidade deixa-nos desarmados. Há limites, e o viver nunca até hoje acabou porque já tudo está concluído. Viras a esquina e ainda tens tanto para viver, ainda. Não temos de saber tudo, temos de viver as coisas a seu tempo, fazer a felicidade prolongar mesmo que o caminho seja doloroso e difícil de percorrer. Por mais que tenhas vontade de desistir, sorri e acredita. Acreditar é algo que nos ultrapassa, nos leva bem mais além. Tudo é possível. Tudo.

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